De repente, não mais que de repente, comecei a sentir algo estranho. Meu coração batia acelerado, minhas mãos suavam frio, minha garganta parecia fechar. Não. Não estou descrevendo sintomas de uma infecção alimentar ou reação alérgica. Estou falando do ciúme retardado!
Eu nem sabia que isso existia. Como se pode sentir ciúmes de algo (no caso, alguém) que não temos mais? Pois esse mal existe e aconteceu comigo semana passada.
Fui convidada para um evento e sabia que meu ex-tudo (marido, namorado, companheiro) também estaria lá. Tentei manter a pose e a elegância de uma verdadeira dama.
Cheguei ao local do evento e me aproximei de alguns conhecidos. Meu ex já estava lá e conversamos por algum tempo. O tema da conversa variou entre meteorologia e premonição, tipo o clássico “será que vai chover amanhã?”.
Estava me sentindo o máximo com o meu ex ali, no lugar que ele nunca deveria ter saído: do meu lado! Reconheço que ter terminado a relação foi ótimo pra mim, mas dá uma saudade... Ai, ai...
(Depois de alguns suspiros e lamentações, sinto-me preparada para retomar a minha saga)
Foi nesse momento que adentraram no recinto duas criaturas repugnantes: as “amigas” do meu ex. Uma delas me conhecia, mas não falou comigo (descobri que cortar o cabelo muda a fisionomia. Pitanguy que se cuide) e a outra... bem a outra ele NÃO quis apresentar. Como assim não quis? Quem ele pensa que é? Quem elas pensam que são? Quem é ela? Não respondam! Não respondam!
Menina... foi me subindo um ódio, uma raiva. Meu rosto começou a esquentar, minhas mãos tremiam. Comecei a “bufar” feito touro (que pena que nenhuma delas usava vermelho.). Por pouco a “dama” não se transformou em “baiana”.
Liguei para uma amiga e comecei a falar. Mentira: eu gritava! Queria que todos me ouvissem. Nunca falei tanto palavrão! E olha que carioca aprende a falar “merda” antes de “mamãe”.
Que situação! Minha vontade era ir embora, mas não tinha como. Tive que aturar aqueles risinhos por quase 2 horas! Abrindo parênteses: estou refletindo agora e desconfio que eu tenha traços masoquistas. Fecha parênteses.
O mais interessante é que meu ex não saiu do meu lado, mas isso não foi suficiente para diminuir a minha ira.
Chegou a hora de ir embora (aleluia!). O bendito me levou até o carro e nos abraçamos de maneira bastante afetuosa. Entrei no carro, olhei para o lado e... uma das “quenguinhas” se aproximou dele. Até agora não sei como consegui chegar em casa!
Passada a raiva, comecei a refletir sobre o que tinha acontecido. Por que tanto ódio? Por que tanta irritação? Não compreendia o que tinha acontecido comigo. Pensei. Pensei. Até que descobri: estava com ciúmes!
Por mais que tenha doído muito na hora, a realidade era bem mais simples do que pensava. Estava sofrendo do velho e conhecido ciúme.
Mas como? Nós terminamos! Como isso pôde acontecer comigo! Será que ainda gosto dele? Ai, meu Deus! Estou cheia de incertezas!
Fala a verdade: isso já aconteceu com você, não é? Você sentiu igualzinho a mim, não foi? Pois bem, farei a minha leitura sobre o que aconteceu.
Depois de tanto tempo de convívio é inevitável que alguns sentimentos fiquem um pouco misturados: carinho, apego, amor, posse, raiva, compaixão... Essa mistura acaba nos confundindo e a gente perde um pouco das nossas convicções: será que eu devia ter terminado mesmo? A confusão existe e não deve ser ignorada.
Agora que consigo enxergar melhor o que aconteceu, percebo que o ciúme que senti não estava no meu ex (talvez um pouquinho...), mas na certeza de que outra mulher poderá ter parte do que tive. Ou melhor, poderá vivenciar novas experiências que eu nunca mais poderei ter com ele.
Pode parecer um pensamento pequeno, mas é o que sinto. Sei que o que vivemos não poderá ser desfrutado por outra pessoa. O que dói é saber que outra pessoa terá algo que eu não posso mais ter com ele.
Chego à conclusão que meu ciúme é do futuro, não do presente. O que acabou, acabou. Mas ainda penso no que poderia ter...
O que me resta agora? Recordar o meu passado? Criar expectativas sobre o futuro? Nada! O que eu preciso é viver o meu presente! Sei que essa dor vai passar (e está passando) e que quanto mais presente eu estiver na minha vida, mais eu poderei aproveitá-la. Vou continuar seguindo em frente.
E se o ciúme aparecer de novo? Bem, só me resta senti-lo, mas não vou me prender a ele! O ciúme pode ser retardado. Eu não!